sexta-feira, 27 de maio de 2011

UMA PEÇA NA PEÇA

Quelyno Souza

No teatro de revista
Uma peça, na peça
Uma peça de papel
No tablado uma caricatura
Do jornal pasquim
Recorda um bordel

UM POVO

Quelyno Souza

Estou ficando louco
E pouco em pouco
Nos planos para o futuro
Meu povo, eu juro
Que ninguém cura
O meu país
Só o amor segura
A miséria e a loucura
Deste sacrifício
Este povo
Que já foi cangaço
Hoje é bagaço
Isso pode crer
Se quiser
Pode escrever
Esta epidemia
Que destrói a ecologia
Nesta agonia de viver
Cheirando álcool
Metanol e gasolina
Deste povo é a sina

SORTE

Antes de partir seja forte
Der-me um conselho
Ou um biscoito da sorte

Quelyno Souza

Traga-me um espelho
Quando chegar a hora de voltar
E uma mala cheia de conselhos

Ando precisando tanto
Olhar minha cara
Ver-me sem espanto

Quero criar pela vida gosto
Viver sem medo
Contar os bons momentos
Na ponta dos dedossorte

SONETO DO MEU AMOR

Quelyno Souza

Sua afeição é a mais bonita
Dentre as que já conheci
Tua voz é a mais gostosa
Entre todas que já ouvi

Você não sabe do meu amor
Ele é tão colorido
Você não sabe do meu sentimento
É o ultimo fruto colhido

Eu sou a tua outra parte
Em qualquer madrugada
Você é a mais linda arte

Tem pingos de chuva lá fora
Fica mais um pouco amor
Por favor, não vai embora

SENTIMENTO EM DUAS VIAS

Quelyno Souza

Um amor afoito é o meu
Um amor às claras
Um amor no escuro
Apaguei o passado
Planejei o futuro
Em uma folha
De papel carbono
Registrei cada momento
Em duas vias
Todo o sentimento
Como garantia
Do meu amor

SEM JUÍZO



Quelyno Souza

Vem menina
Com esperança
Entrar neste balanço
No embalo desta dança
Porque a nossa vidinha
Joga duro
Cobra com juros
E eu juro dançar
Neste salão
Sem máscara
Perder-me sem juízo
Fugir da solidão
E gostar d prejuízo

SE DIGO SIM, ELA DIZ NÃO

Quelyno Souza

Se pago seu cartão de crédito
Diz que preferia o dinheiro
Se lhe dou um beijo
Diz que queria um cheiro

Se compro uma saia
Quer um vestido
Se for simples quer rendado
Se for liso quer florido

Se vou sair a pé
Diz que quer ir de carro
Se tomo água de côco
Ela acende um cigarro

Não gosta do Botafogo
Não gosta de futebol
Na praia reclama do protetor
E até mesmo do guarda-sol

Na pizzaria faz confusão
Reprova o meu pedido
Se lhe peço paciência
Grita no meu ouvido

Se digo sim, ela diz não
Me diga Senhor do Bonfim
Até quando vou agüentar
O que vai ser de mim?

ROMANCE COM RUM

Quelyno Souza

Por mais que eu tente
Juntar eu e você
Fica faltando sempre
Ou eu ou você

Você toma minha dose
E diz que falta um
Um cubo de gelo
E um dedo de rum

Coca-cola a gosto
E eu gostando mais de você
Beijando minha boca
E tirando o gosto

O tira-gosto
São seus beijos
E porque não dizer
O meu desejo

RETRATO DE MÃE


Quelyno Souza

Segurando um terço na mão
Penso e guardo mãe, seus ensinamentos
Sinto que aqui você estar presente
Recordo e revivo grandes momentos

Vejo sua foto em preto e branco
Pendurada na parede da sala
Quando me falta compreensão
É o seu rosto na moldura que me fala

É este retrato que retrata
Melhor quem foi e é você
Na vida bela, que também maltrata

Se vejo minha imagem no espelho
Confesso mãe, não sei como seria
Se não seguisse seus conselhos

QUESTÃO DE TEMPO

Quelyno Souza

Quero sentir seus beijos
Sua pele e seus pêlos
Grudar no seu corpo
E assanhar seus cabelos

Sonho novamente com o seu amor
O que você faz é rir à toa
Leva tudo na brincadeira
E se distrai com outra pessoa

Quando declaro meu sentimento
O que você faz é me confundir
Sinto que estou pertinho de ti
E você bem longe de mim

PRIMEIRO ATO

Quelyno Souza

Ela se foi
Na despedida
Nem sequer
Vi seu corpo
Com vida
Muitos enganos
Se foram
Vinte e quatro anos
Agora ela
É jaz é paz
Nada mais
Se pode fazer
Joana morreu
Se despencou
Daquele edifício
Joana se acabou

PERFUME


Quelyno Souza


Sinto seu cheiro à distância

Sinto a hora que você vem

Para os meus beijos e abraços

Amar e ser amada como ninguém



A sua lingerie embaraça minha vista

O frescor natural de sua pele me arrepia

Altera os batimentos do meu coração

Na cama realiza mais uma fantasia



No contato pele e pêlos

O seu corpo exuberante

Exala o mais puro cheiro



É de matar qualquer um de ciúmes

Quando sinto sua pele macia e cheirosa

Sem nenhuma gota sequer de perfume

quinta-feira, 26 de maio de 2011

PÉ NA ESTRADA

Quelyno Souza

Diante dos teus olhos
Tracei o meu caminho
Pra ficar com você
Não consegui, e acabei sozinho

Eu fiz de tudo
Escrevi a duras penas
Meu sentimento profundo
Num pobre poema

Não, Não, Não deixei
Um rastro sequer
Tomei um antidepressivo
Rezei e segui com fé

Todavia, em cada passo
O meu caminhar é sofrimento
Só vem você
No meu pensamento

PASSAPORTE

Quelyno Souza


Ela me beija e vai embora
Na despedida no aeroporto
O meu coração não agüenta e chora

Ela borrou minha boca por pirraça
Sujou minha vida com prazer
E deixou um sabor que não passa

Fico criando ilusões sem fim
Quem sabe em outros braços
Ela já até se esqueceu de mim

É na solidão que sinto os danos
Acreditei na sua volta
E descobri que foi um puro engano

O meu peito ainda está aberto
Preciso tanto minha paixão
Ter você por perto

OFEGANTE

Quelyno Souza

Vivo cansado procurando por ela
Corro na contra-mão
Corro risco, me arrisco
Faço “das tripas coração”

Por onde passo ela já passou
Me falta pernas e paciência
Se passo por seu caminho
Será o destino ou mera coincidência?

Ela brinca sem medida
Brinca de esconde-esconde
Brinca comigo e a vida

Joga a culpa no destino
E quer que eu acredite
Como se eu fosse menino

O CORCUNDA DE NOTRE DAME

Quelyno Souza

Ele foi
Um tolo
O tolo dos tolos
O rei dos tolos
Mal coroado
Ele foi tolo

NEGRO PASSEATA

Quelyno Souza

Negro passeata surgiu
Da vasta raça negra
Num cantinho do Brasil
Traçando caminhos
Os quindins dos negros
Ouvindo “Upa neguinho”
A sociedade censurou
O negro passeata
Na valorização da cor
Negro passeata
Grita feito um medonho
Pela revolução racial
Seu antigo sonho
Fazendo um samba
Fundo de quintal
O negro passeata
Anda de cara feia
Com sua mulata
Anda chorando seu amor
Por o racismo dói
Feito saudade
Da neguinha que não voltou

MUTILADO

Quelyno Souza

Num trabalho
Um corpo velho
Mutilado
Condenado
E mal pago
Um corpo velho
Mutilado
Num trabalho
Condenado

MINHA MENINA

Quelyno Souza

Para Kezinha

Passa o tempo
Minha menina
Passa feliz
É um encanto
É meu acanto
Olhando o mundo
Olha ela...
Uma flor tão bela

MEU PAI MORTO

Quelyno Souza

Meu pai correu
Tentando barrar balas
Em nome do povo
Com seu corpo pesado
Meu pai foi baleado
Três tiros
À queima roupa
Quando caiu
Na cara do povo
Meu pai
Foi baleado de novo

INTIMIDADE

Quelyno Souza

Em cada verso que escrevo
O meu sentimento declaro
O coração dispara
Quando você me insinua
Gosto do seu cheiro
Na varanda seminua
Solto a palavra que voa
Uma gota d´água
Revela sua intimidade
O frescor do seu banho
Quando o meu plano
De seguro falhou
Salvei num pen drive
Nosso caso de amor

GRITO

Quelyno Souza

O grito
Que liberta
O mar
É verde

O grito
Que golpeia
O social
É vermelho

FILME DOCUMENTÁRIO

Quelyno Souza

Hoje assisti
Um longa metragem
Uma trapaça
Num cine burguês
Cheirando fumaça
Nacional baseado
Num argumento camponês
De um cineasta genial

FALANDO DE ECONOMIA

Quelyno Souza

Foi falando de economia
Que o velho do bandolim
Cantou uma cantiga antiga
Do Luiz assim...
Deixando a garçonete feliz
E a moça sorrindo
Batendo um pé pedindo bis

Alguém trocou idéias
De economia
A garçonete sorria
A moça ficou feliz
Todo botequim achou graça
Vendo o velho sair
E a moça tomar cachaça

ESTRADA DE FERRO

Quelyno Souza

Foi nos trilhos da vida
Lá em cima da serra
Na estrada de ferro
Que deixei minha terra
E cheguei por aqui
Fiz promessa na mesa
No quarto e na sala
Uma vela acessa

Tomo um cafezinho quente
Toda noite sonho ser o dono da terra
E acordo com saudades de minha gente
O avesso do cobertor
Uso contra chuva e frio
Se minha vida é de dor
Perdi o pouco que tinha
Quando perdi meu amor

Com meu velho chapéu amado
Desbotado do meu tempo de guri
Para o tempo fui o culpado
Gosto, mas não posso ficar aqui
Ainda volto a minha terra
Ao meu sublime lugar
Pra rever amigos e parentes
E quem sabe de novo lá morar

ESTACA ZERO

Quelyno Souza

Foi só pra satisfazer você
Que tantas vezes brinquedo
Na cama tive que ser

Vendo as estrela até esqueço
Que perdi noites de sono
Ando fazendo coisas ao avesso

Quando sai de casa já era dia
Joguei todas minhas fichas
Procurando quem não mais me queria

Meu bem eu ainda te espero
Sei que não mereço
Vê nosso caso na estaca zero

E AGORA O QUE VOU FAZER?

Quelyno Souza

Perdi a conta das vezes
Que dormi no sofá
Cheguei tarde para o almoço
E perdi a hora do jantar

Bateu a porta na minha cara
E começou a chorar
Me xingou de cafajeste
E disse que não consegue amar

Perdi a conta das vezes
Que ela acordou de cara amarrada
Acha uma mancha de batom
Eu juro que não sei de nada

A camisa meu bem já estava suja
Ou não foi bem lavada
Irritada não fala mais comigo
E o seu castigo é ficar calada

Perdi a conta das vezes
Que levei o nome de cachorro
Quer me tirar de sua via
E atrás desse amor eu ainda corro

Quer os filhos e o meu sobrenome
E eu que vim lá do morro
Vou ter que pagar pensão
E a meu Deus pedir socorro!

DESEQUILIBRIO

Quelyno Souza

Um homem caiu
Num fundo sujo
Se lambuzou
Até o final
De seu mandato

Até o final
De seu mandato
S lambuzou
Um homem
Até então honesto

CRIATURAS

Quelyno Souza

Meu amor
Minha criatura
Minha literatura
Um poema
Uma pobre escritura
Não diz tudo
Não fala do chá que bebemos
Nem da Paraíba onde vivemos
É um absurdo
Márcia continua surda, muda
A essa altura
Tocando o barco eu vou
Fazendo travessuras eu vou
No meu conhaque
Tudo é mistura
Entre leituras
Caricaturas e loucuras
São tantas criaturas

CHICO E JOÃO

Quelyno Souza

Chico e João
Dois corpos no chão
Norte e nordeste
Chico seringueiro
João corretor
Duas famílias
Uma mesma dor
Balas de latifúndio
Destrói
Constrói passeatas
Na rua
O povo de novo
Protestos
Manifestações
Em prol da mata
Na casa lamento
Míngua, tormento

CAZAIDS

Quelyno Souza

Seu lenço
Amado
Estampado
É um segredo
Sua voz cantada
Estampada
Sem medo

BLOCO ANJO AZUL - EU E MINHA ANJINHA

Quelyno Souza

No Beco da Faculdade
Enquanto eu descia
Todo sorridente
Ela subia, ela subia
Toda contente
A escadaria

Foi ai que virei foliã de rua
Não sou mais sozinha
“Vivo no mundo da lua”
Eu sou dela e ela é minha
Somos cúmplices
Eu e minha anjinha

Olha amor quem vem ali...
É May, é May de colombina
Toda fantasiada
Uma verdadeira menina
Brincando o carnaval
Com confetes e serpentinas

Viva! As Muriçocas do Miramar
As Virgens de Tambaú
E As Peruas do Valentina
Os imprenssados, e o Cafuçu
Mas, sou muito mais feliz
Aqui, aqui no Anjo Azul

ANONIMATO

Quelyno Souza

Saí na rua
E gravata
Fiz silêncio
Na passeata
A classe operária
Anda com graça
Com a elite
Tomei cachaça
Maria ama João
Num mundo sonhador
Tô com aids
Você não presta doutor
Você não presta...

A QUEM IMPORTA?

Quelyno Souza

Os olhos
O rosto
As mãos
A pele
O batom
Os lábios
A boca
A língua
Os pêlos
A sensibilidade
O cheiro
O perfume
O vestido
A sensualidade
O vinho
A taça
O cio
A tara
A quem imposta
O sentimento?

AMAR

Quelyno Souza

Quero um passeio
No jardim, no pomar
Quero um beijo
Cravado na boca
Eu quero amar
Ficar borrado de batom
Anunciar meu sentimento
Dançando feliz
Uma valsa do Tom
Se afastar dessa dor
Rolando na cama
E fazendo amor